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Frase Psicanalítica | Lygia Fagundes Telles

Diante dos diversos fatores que atingem o indivíduo contemporâneo, podemos dizer que a subjetividade é fator preponderante na compreensão da melancolia e da depressão.

Frase Psicanalítica | Lygia Fagundes Telles

"Se é difícil carregar a solidão,
mais difícil ainda
é carregar uma companhia."

A ambiguidade na frase de Lygia Fagundes Telles nos lembra que, como humanos, sofremos, muitas vezes, por nossa própria falta de empatia ou pelo excesso dela (os melancólicos do Romantismo que o digam).

Assim como na literatura, nossas vidas “reais” são cheias de mortes simbólicas. E, até “renascermos“, podemos sentir muitos vazios existenciais.

Esses vazios podem ser, mais ou menos, profundos, mais ou menos, duradouros. E assim, tristezas momentâneas podem se transformar em quadros depressivos ou melancólicos.

Apesar de semelhantes, melancolia não é depressão. Como também, ambas podem ser confundidas com tristeza. Mas são bem mais complexas, como se fossem “tristezas sem fim”.

A partir do surgimento da Psicanálise, Freud organizou a subjetividade humana através de três mecanismos ou organizações psíquicas: neurose, psicose e perversão.

Considerando a sua subjetividade, o indivíduo funcionaria, predominantemente, em alguma dessas estruturas. Freud abordou a melancolia a partir da psicose e sugeriu que os estados depressivos podem estar presentes em qualquer das estruturas.

Subjetividade é um conceito multifacetado que diz respeito à intimidade do indivíduo. Envolve a interpretação que cada um dá a determinada experiência e como irá exteriorizá-la, através de julgamentos e opiniões. O que é subjetivo diz respeito, portanto, aos ecos personalíssimos dos afetos de uma pessoa.

A subjetividade se transforma com o tempo. Com isso, muitos fatores coletivos impactaram o homem pós-moderno na expressão da sua subjetividade.

Desde as duas grandes guerras até hoje, com adventos como a web e a inteligência artificial, indivíduos em todo mundo tiveram transformadas as formas de se relacionar, com eles mesmos e com os demais.

Uma mudança significativa ocorreu a partir dos anos 1970, quando as sociedades de molde neoliberal começaram a se expandir ao redor do mundo. Nas bases do Estado mínimo, típica do neoliberalismo, os indivíduos foram pressionados com a ideia de que a responsabilidade por seu fracasso ou sucesso é exclusiva deles mesmos.

O livro “A Sociedade do Espetáculo” (1967), do pensador francês Guy Debord, já dava os indícios de como os indivíduos estavam ficando ausentes de suas próprias subjetividades, do que era realmente importante para eles, a partir do consumismo exagerado, da “cultura da mídia” etc.

Além disso, a perda de direitos e garantias individuais e coletivas, que pareciam consolidadas, deram vazão a novas inseguranças e dúvidas existenciais.

Em relação à questão do direito à saúde e seus impactos no bem-estar psíquico, um estudo da Organização Mundial da Saúde (OMS), de junho de 2022, divulgado pela Organização Pan-Americana de Saúde concluiu que, mesmo em países de alta renda, existem deficiências e lacunas nos atendimentos inerentes à saúde mental, como no caso da depressão.

No Brasil e em outros países de média e baixa renda, os efeitos da desigualdade agravam os números dos países desenvolvidos. Casos de depressão e de ansiedade tiveram um aumento maior que 25% em 2020, que foi o primeiro ano da pandemia de COVID-19.

Depressão é um termo originário da Medicina. A depressão não é simplesmente um único transtorno. Segundo a classificação internacional de doenças (CID), ela possui muitas formas descritas, com variados tipos e gravidades. Já a melancolia, ao longo da história, foi uma expressão que designava que o indivíduo estava sentindo uma tristeza profunda.

Em “Luto e Melancolia” (1917), Freud identificou que o melancólico possui problemas de identificação com o objeto externo, no qual investe sua energia libidinal, tomando o objeto como parte de si mesmo.

Com a perda do objeto (ou a possibilidade de sua perda), parte do eu também se perderá, acarretando a melancolia. Ou seja, ao perder o que deveria ser externo a ele, mas que é encarado como parte de si, o melancólico entra em uma dinâmica de tristeza profunda e outros sintomas.

Freud classificou a melancolia como uma psiconeurose narcísica. O narcisismo é uma das etapas da formação da personalidade considerando as fases do desenvolvimento psicossexual. No entanto, a não superação da etapa narcísica gera a ferida no melancólico

Diante dos diversos fatores que atingem o indivíduo contemporâneo, podemos dizer que a subjetividade é fator preponderante na compreensão da melancolia e da depressão. Se nós fugimos de nós mesmos, de nossas solidões, medos e desamparos - como afirmou nossa célebre escritora. Mais difícil ainda é termos de nos enfrentar no outro, refletidos nas estruturas narcísicas que envolvem nosso modelo social e econômico.


Referências:
Antes do Baile Verde (1949/1969) - Lygia Fagundes Telles
A Sociedade do Espetáculo (1967) - Guy Debord
Luto e Melancolia (1917) - Sigmund Freud https://clinicasdotestemunhosc.weebly.com/uploads/6/0/0/8/60089183/luto_e_melancolia_-_sigmund_freud.pdf
OMS destaca necessidade urgente de transformar saúde mental e atenção - 17/06/2022 - https://www.paho.org/pt/noticias/17-6-2022-oms-destaca-necessidade-urgente-transformar-saude-mental-e-atencao

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